O estresse, a tensão e ansiedade tornam a população vulnerável a diferentes doenças físicas e mentais, e o bem-estar emocional pode ter impacto direto na saúde corporal. Aliado a isso, a microbiota intestinal pode desempenhar papel vital no neurodesenvolvimento e na etiopatogênese de certos distúrbios neuropsiquiátricos. O papel da microbiota intestinal é também evidente pelo fato de que importantes distúrbios relacionados à saúde mental são acompanhados por disbiose intestinal.
Existe uma relação importante entre probióticos, psicobióticos, processos cognitivos e comportamentais, que incluem sinalização neurológica, metabólica, hormonal e imunológica. A alteração nesses sistemas pode prejudicar o comportamento, humor e níveis de aprendizagem e memória. Os psicobióticos, nesse contexto, têm sido considerados elementos-chave para regulação desses sistemas, além de seu efeito global na regulação imune e em outros eixos-controle, como o eixo-hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA).
Os psicobióticos são uma classe especial de probióticos que trazem benefícios à saúde mental. Diferente dos probióticos convencionais, os psicobióticos apresentam capacidade de produzir e estimular neurotransmissores, ácidos graxos de cadeia curta (AGCC’s), hormônios enteroendócrinos e citocinas anti-inflamatórias. Devido a esse potencial, os psicobióticos têm um amplo espectro de aplicações, que podem variar desde a modulação do humor e estresse, à adjuvante em tratamentos terapêuticos para distúrbios neurodegenerativos.
As bactérias consideradas psicobióticas pertencem à família Lactobacillus, Streptococcus, Bifidobacterias, Escherichia e Enterococcus. Os neurônios presentes no Sistema Nervoso Central (SNC) interagem diretamente com produtos microbianos, o que influencia a sinalização para o SNC. Estes psicobióticos foram, inicialmente, definidos como probióticos que, quando ingeridos em quantidades adequadas, produzem efeitos psiquiátricos positivos, que podem se enquadrar em três categorias: (i) efeitos psicológicos em processos emocionais e cognitivos, (ii) efeito sistêmico no eixo HPA e em resposta ao estresse de glicocorticoides e inflamação, e (iii) efeitos neurais em neurotransmissores e proteínas. Os neurotransmissores modulados mais relevantes incluem o Ácido Gama-aminobutírico (GABA) e glutamato, que controlam o equilíbrio da excitação-inibição neural.
As proteínas incluem Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), que desempenha um papel crucial nos processos de aprendizagem e memória, incluindo aprendizagem espacial, extinção do medo condicionado e reconhecimento de objetos. Observa-se que o BDNF, por exemplo, é reduzido em quadros de ansiedade e depressão, o que pode ser reversível com uso de antidepressivos e psicobióticos. As bactérias, ainda, regulam limiares eletrofisiológicos neurais do sistema nervoso entérico quando há exposição a substâncias fermentadas por Bifidobacterium longum. Da mesma forma, os neurônios do cólon têm aumento da excitabilidade quando estimulados por Lactobacillus rhamnosus.
De modo geral, os psicobióticos podem exercer efeitos benéficos por meio da modulação de redes neurais. Em nível sistêmico, as reduções do cortisol e de citocinas pró-inflamatórias apoiam esses processos. A colonização bacteriana intestinal, portanto, têm impacto significativo na neurofisiologia do hospedeiro, bem como em sua função neural e modulação de processos comportamentais e cognitivos, atuando, dentro e fora do SNC, como importante cofator em funções e mecanismos cerebrais, podendo contribuir para a etiopatogênese ou para exibir sinais e sintomas importantes em doenças neurodegenerativas, como o Espectro do autismo (ASD), ansiedade, depressão e Doença de Alzheimer (DA).
Referências:
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